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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Da sessão: cartas #2

Vó.

Não sei como as coisas foram chegar a esse ponto sem eu perceber vó, fui ficando triste, triste, triste, vazia, o mundo ali e eu me fechando pra ele vó, e tu aí né vó... Me observando.
Desculpa vó, se não passei tempo suficiente com a senhora, não passei né vó? E hoje eu sei que todo tempo do mundo ainda é pouco né, e a gente acha que tem um vidão pela frente e de certa forma acredita que as coisas são eternas, doce engano né vó? Desculpa vó se estava ocupada demais com o trabalho para ir ao seu aniversário, desculpa vó por não ir todas as vezes que pude a sua casa, eu achava mais bacana passar meu tempo das férias com a galerinha vó, do que contigo, como eu fui burra vó, desculpa vó se não prestei atenção no teu Italiano e nas coisas que aparentemente pra mim eram bobas, mas mal sabia eu, eram muito sabias. Lembro daquela vez vó, que quando pequena sujei meu vestido todinho de amora, manchei ele e a senhora disse pra mãe que não era minha culpa né vó, eu lembro de como à senhora ria pra mim vó e hoje mal consegue mexer a boca para mostrar os dentes, mas não se preocupe vó, eu vejo nos teus olhos, eu vejo teu sorriso neles. E eu vejo orgulho neles vó, até mesmo admiração, obrigada vó por me fazer sentir isso. E me desculpa de verdade vó, eu poderia estar lá, eu poderia estar, mas a gente sempre acha que vai dar que vai dar que outras oportunidades vão vir né vó? Mas não vieram vó, e eu não tenho como voltar. Eu não quero ser desacreditada igual à mãe vó, ela disse que eu sou muito bobinha e que amor não existe, mas a senhora me disse que era pra eu encontrar alguém pra amar, lembra vó? Eu vou encontrar vó, eu prometo.
Sabe como são esses correios de hoje em dia, e a senhora nunca se acostumou com a tecnologia né vó? Eu sei... Nem telefone. Tenho receio de que quando essa carta chegar teus olhos já estejam cerrados e nunca mais abram vó, e aí vó eu vou ter que te pedir desculpas mais uma vez por nunca ter tido coragem de te dizer todas essas coisas vó. Eu te amo.

Da tua netinha, Lourdes.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Da sessão: cartas.


Don Juanito. Eu poderia fazer qualquer coisa pra mudar tudo, mas qualquer coisa não é o mesmo que tudo e pra tudo ainda me falta muito. Ter alguém, um lugar pra ficar, ter a mim mesma sem pestanejar. Estar aqui sem estar lá, em pensamento. Com ele. Desde já dedico a ti meu mais saudoso adeus.

Carinhosamente, sua linda.
Imagem por: Ygor Marotta.